Carta ao Investidor #5

Marcello Vieira

Marcello Vieira

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Dá pra prever o futuro e entender o que está acontecendo na economia dos mercados e acertar os próximos movimentos?

Aqui é o Marcello Vieira e esta é a 5ª Carta ao Investidor, onde eu compartilho vários dos meus aprendizados ao longo dos anos e muitas vezes como estou aplicando isso na atualidade.

Uma coisa que já ficou clara pra mim depois de muitos anos investindo, muitos anos acompanhando muita gente boa em investimentos é que é impossível você prever o que vai acontecer baseado no mercado.

Muita gente analisa, por exemplo, o que está acontecendo na economia: como estão os juros, como está a inflação, como está o discurso dos Bancos Centrais. Às vezes muita gente usa isso também em relação às empresas: como está um determinado mercado, como está o desempenho de uma empresa. E acreditam que, só com isso, vão conseguir prever o que vai acontecer.

Ah, agora é melhor sair do mercado, está com cara de que vai cair por causa disso ou daquilo..”  ou “Não… esse ano vai ser um ano de alta forte agora na bolsa” ou ainda:  “Esse ano vai ser um ano bom para países emergentes como o Brasil.

Enfim, inúmeras teses. E eu vejo que, até hoje, nunca encontrei alguém que acerte essas teses com frequência.

Então, fica muito claro pra mim que não é uma boa estratégia ou uma boa ideia simplesmente seguir teses. E acho que o mesmo vale, digamos assim, para análise técnica.

Muita gente traça inúmeras linhas… E então tenta prever também: “Agora vai cair até tanto” ou “Agora esse mercado vai subir até tanto“, “O mercado vai fazer esse movimento, vai formar tal figura“.

Nunca vi ninguém acertar com frequência dessa forma. Seja com macroeconomia, análise fundamentalista ou análise técnica. Ou seja, não é um problema das análises. A questão é que o futuro é imprevisível. Os mercados são tão complexos, há tantas variáveis imprevisíveis!

Atualmente, boa parte do mundo está com inflação alta por problemas de logística. Os portos e cadeias de produção foram afetados pela pandemia das mais diversas formas.

Determinados produtos agora vendem muito mais do que antes. Cada vez o mundo está mais digital, então chips para todo e qualquer tipo de eletrônico estão vendendo muito mais do que antes.

Já outros tipos de produtos estão sendo menos consumidos. Houve uma mudança na cadeia de produção e o mercado ainda não se ajustou a isso.

Com a questão dos lockdowns nos portos, até hoje, a produção ainda não voltou ao normal. Tem também o fato de as pessoas contraírem Covid e ficarem afastadas. Cada país tem uma regra e assim vai…

Então, com todas essas variáveis até hoje, no momento em que estou escrevendo essa carta, ainda não voltou ao normal.

Quando vai voltar? Ninguém sabe!

Ninguém sabe se vai surgir uma nova variante, se vão ter muitos casos e se vão ter que afastar os trabalhadores ou se vai voltar ao normal como era antes da pandemia.

Esses são alguns dos inúmeros fatores totalmente imprevisíveis.

O exemplo da Covid é bom porque nunca havia ocorrido um problema dessa magnitude na cadeia de produção, nos portos, na logística.

Então, o quanto isso vai afetar a inflação? Cada um diz uma coisa e a verdade é que ninguém sabe. É muito complexo, tem muitas variáveis e não tem como saber.

E a mesma coisa serve para taxa de juros entre várias outras políticas econômicas. 

Ninguém sabe.

Tanto que os Bancos Centrais agem muitas vezes de forma atrasada, esperam acontecer as coisas e depois reagem porque é difícil prever o que vai acontecer.

Então esse é um ponto bem importante pra você saber, porque ainda é muito comum as pessoas verem um expert, um analista, verem alguém dar uma entrevista, seja o que for e, a pessoa compra aquela ideia! Mas sem saber que, basicamente, a chance daquela pessoa acertar com consistência as ideias dela, não é muito superior a 50%.

Ou seja, ela pode estar perfeitamente certa ou errada.

O ideal é que você não tome decisões baseadas neste tipo de análise ou de perspectiva.

Ah, o dólar vai subir ou vai cair?” Ninguém sabe! São muitas variáveis.

Outra coisa importante é saber o que é o viés. O viés é uma tendência que temos de pensar de um jeito por algum motivo e que faz com que a gente distorça a interpretação dos fatos.

Um exemplo clássico é um torcedor fanático de um time. Ele muitas vezes vai distorcer completamente os fatos. Por exemplo: Tem um jogador que ele não gosta por algum motivo emocional, o cara falhou em uma final, o time perdeu e o torcedor tem raiva daquele jogador porque ele queria que o time tivesse ganhado.

Enfim, ele começa a ter uma opinião deturpada daquele jogador. Às vezes, ele nem está tão mal assim no jogo, mas o torcedor acha que está horrível. É um viés – existe um motivo por trás que distorce a interpretação deste torcedor.

E a mesma coisa acontece no mercado.

Tem gente que não gosta por algum motivo, não simpatiza ou não confia em um setor da economia. Não confia em ações de tecnologia porque elas se endividam muito pra crescer ou qualquer outro motivo e, então, distorce completamente as análises que aquela pessoa faz, porque ela tem um viés.

Além de não ser possível prever o futuro, por serem muitas as variáveis, as pessoas não percebem que também tem muitos vieses. E dessa forma, fica realmente impossível prever o futuro.

É melhor não investir baseando-se simplesmente nessas percepções, porque na maior parte das vezes, elas não funcionam.

Mas Marcello, então… como investir?

Como eu já comentei em outras cartas e, a gente vai falando mais sobre isso ao longo do tempo, a resposta é ter estratégias objetivas.

Estratégias claras que podem ter uma tese por trás. Por exemplo, para quem acreditou na tese das empresas de tecnologia porque a tecnologia vem mudando o mundo e as empresas de tecnologia apresentavam um grande potencial, acertou bastante.

Vimos uma década na bolsa americana de um desempenho fenomenal das empresas de tecnologia.

E quem apostou no Bitcoin e nas criptomoedas também acertou. Mas, você tem uma base, uma tese por trás de uma tendência, de uma tecnologia.

Quem apostou há muitos anos em e-commerce também. O e-commerce, você oolha os dados, e está crescendo ano após ano. Você olha a logística de como funciona o mundo e cada vez mais as pessoas estão online.

É possível fazer teses assim com um certo grau de previsibilidade, mas não sobre qual ação vai subir ou qual vai cair e quando vai acontecer.

Essas teses, principalmente de curto prazo e de médio prazo, são muito, mas muito difíceis de acertar.

Tendências de um prazo maior, que estou chamando aqui de tese, se consegue acertar com mais previsibilidade.

Mas essas teses assim: e-commerce vai crescer, cripto vai crescer, empresas de tecnologia de diversos setores vão crescer por si só, são apenas teses. Como que se investe diretamente?

Você precisa ter uma estratégia. E esse é o ponto. Quanto mais objetiva for a sua estratégia, normalmente é melhor. É o que eu mais vejo de resultado.

Você pode ter uma tese de que as empresas como a Amazon vão crescer e, então, você tem que ter critérios bem objetivos para decidir quais ações você vai comprar e quando.

E então você vai buscar estudos e critérios objetivos. E é muito bom fazer isso de forma quantitativa com robôs, com software.

Basicamente, é assim que eu vejo.

Uma tese que eu chamo de big picture – com um prazo maior – de uma grande tendência que tem grandes chances de acontecer, dessa forma, há sim maiores chances de acerto na previsibilidade.

Agora: “Vai subir ou vai cair no curto ou médio prazo e/ou quais são as ações ou as criptos que vão bombar, que vão dar certo, que vão dar errado…”

“O Facebook e o Instagram vão continuar sendo as principais mídias sociais? Ou vão ser substituídas por outras, assim como o Facebook já substituiu o Orkut no passado?”

Esse tipo de coisa, ao invés de ficar criando teorias em temas assim muito complexos, é melhor que você tenha estratégias objetivas e, se possível, quantitativas para te ajudar nos seus investimentos.

Forte abraço,

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MARCELLO VIEIRA

• Fundador do Investidor de Sucesso;
• Possui mais de 13.000 alunos;
• Mentor particular de grandes investidores;
• Investidor especialista em novas tecnologias e desenvolvimento de estratégias quantitativas;
• Transformou 32 mil em mais de 1 milhão de dólares em menos de 6 meses de forma pública e transparente;
• Participa de grupos e eventos com vários dos melhores gestores, investidores e traders ao redor do mundo.